timeless
him her find feel
Capítulo I
terça-feira, 23 de novembro de 2010 @ 20:46


São seis horas de um dia sem qualquer interesse. Cheguei agora a casa, depois de um dia onde reinaram as frases feitas e a ironia! E se o mundo que me rodeia soubesse o quanto isso me irrita e me deixa capaz de fazer duma simples e simpática brisa de vento uma tempestade bem forte, meu Deus, eu já estaria onde nós sabemos.
Ando à semanas a tentar ter um minuto normal, sem stress, sem problemas, sem irritações, sem coisas feias e o mais importante sem dores num determinado músculo que temos. Sabem, aquele que irrita toda a gente e que todos desejávamos saber lidar com ele. Mas, coitada de mim, não sou capaz de ter normalidade nas últimas semanas. Parece-me mesmo que anda tudo ao contrário e que as coisas estão deslocadas! (ou serei eu a estar deslocada?)
Eu começo a ter de concordar com aqueles psicólogos da treta que passam a sua santa vida a dar consultas a pessoas da minha idade e a transmitirem sempre os mesmos conhecimentos como se estivessem parados no tempo ou então, como se tivessem engolido um gira-discos estragado!
- Então Lila, queres dizer-me como andas? O que se tem passado?
E neste momento já estou eu a pensar que ela deve imaginar que vou andar a contar-lhe o que se passa! Até tenho pena dela, juro. Esforça-se tanto para me entender e tudo o que lhe digo são meia dúzia de palavras que eu sei que ela não percebe. E é esse o meu objectivo, mas ela ainda não descobriu.
- Ando normal! Nem depressa nem devagar, ando com o tempo. Se quer mesmo que lhe diga, nem sei se é com o tempo se é com o sopro do meu coração, mas até esse sopro anda gasto. Não se tem passado nada de interessante, pena, mas eu também não quero que se passe. Só quero que me deixem em paz e que me deixem viver a minha vida.
Pronto, lá ficou ela a olhar para mim com cara de quem não entendeu nem uma vírgula do que disse! Será que eu fui demasiado complexa e ela não percebe? Eu pensava que o dever dela era entender tudo o que digo mas acho que ela está a começar a achar que eu sou é maluca por natureza e que não tenho problemas nenhuns.
Como não percebeu o que eu lhe disse, tirou umas anotações numa agenda que mais parece que andou na guerra e nem sequer comenta uma palavra do que eu disse. Pára durante uns segundos, olha-me nos olhos e eu já sinto que ela tem uma nova pergunta para me fazer.
- Lila, tu já tens 17 anos, - e eu a adivinhar que vamos começar, outra vez, com a mesma conversa - algo positivo se deve passar na tua vida! Aposto que tens um namorado, que ele te adora! Tu és tão bonita, não acredito numa visão diferente da minha. - e eu não dizia? Lá está ela com a sua mania de que eu sou uma beleza de uma menina e que tenho de ter um príncipe encantado como todas as miúdas da minha idade! Mas que mal fiz eu para merecer isto?
Sem muitos rodeios e sem tentar ser mal educada, digo-lhe que aquilo que ela julga é mentira. Que não tenho namorado, que não estou apaixonada e que nenhum rapaz me desperta interesse. Digo-lhe ainda que não sei o que é o amor ao outro, o gostar do outro e nem pretendo procurar sabe-lo tão cedo e, espero sinceramente que me entenda e que respeite as minhas escolhas! Ela, mais uma vez fica com aquela cara que nem aos Deuses lembra e eu peço-lhe se me posso ir embora e com a sua autorização desapareço daquele gabinete como se fosse dotada de super poderes.
Acreditem ou não, nunca entendi porquê que as pessoas acham que os adolescentes ou seja lá o que esta idade for têm de ter sempre paixões, namoros, diversões e brincadeiras de última hora! Eu até gostava de entrar nas cabeças deles e perceber o que vêem assim de tão inédito para pensar tamanha coisa. Na verdade, nós não somos bichos nem temos ideias demasiado à frente do nosso tempo, somos apenas pessoas normais, a crescer, a aprender a cada dia que passa e a formar identidades e opiniões dependendo das atitudes e comportamentos que nos rodeiam. Ou pensam que andamos a ver telenovelas e filmes de última geração que nos ensinam a ser pessoas?
Não vos entendo, a sério. E ainda há-de chegar o dia em que vou perceber os adultos, ou melhor, aqueles que por idade se consideram nessa faixa. E sim, de facto, tudo se trata de uma grande faixada.
Ai se a minha querida e doce Mãe lê-se isto. Até parece que a sinto aqui ao meu lado a fazer uma daquelas suas tertúlias cor-de-rosa sobre as minhas ideias antagónicas. Mas deixem lá, eu adoro-a e isso faz com que pouco me rale com o que ela pensa sobre os meus comportamentos enquanto a sua mente divaga entre uma mala Channel ou uns sapatos Prada!
Eu acho que o meu problema é outro, aliás, são outros. Passam por outras galáxias e são vividos por outros seres. Sinto até que há alguém que sente o mesmo, que vive o mesmo. Eu já pensei em contar à minha psicóloga isso, mas eu penso assim: se ela já me acha doida porque não sou uma miúda como as outras o que é que ela ia pensar se eu lhe disse-se que sinto o que mais ninguém sente e vejo o que mais ninguém vê? Eu quase que tenho uma belo momento de risota só de imaginar a cara de susto, de pavor e de medo dela! Coitada, no fundo não tem culpa de eu ser assim. Não doida, não estranha, não maluca, apenas diferente.
É isso, diferente. Acho que sou isso! Se é que sei o que isso é.


comentários

lost

together at least ~